terça-feira, 22 de junho de 2010

O monstro

adoraria não pensar sobre isso, não ser consumido por isso.

assim sobrariam migalhas que fossem, do eu que tem sido devorado pelo monstro que criei
e alimentei periodicamente durante todo esse tempo
horrível demais pra que eu pudesse olhar de frente, as circunstâncias da vida me encurralaram junto a ele e me fizeram olhar no fundo de seus olhos que refletem a loucura.
empalidece, poderia ser eu a imagem no espelho?

Estou sobre um massivo ataque a mim mesmo, e não sei se posso sobreviver a isso.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

[trecho] Schopenhauer - Dores do Mundo

Assim como um regato corre sem ímpetos, enquanto não encontra obstáculos, do mesmo modo
na natureza humana, como na natureza animal, a vida corre incosciente e descuidosa, quando coisa
alguma se lhe opõe à vontade. Se a atenção desperta, é porque a vontade não era livre e se produziu
algum choque. Tudo o que se ergue em frente da nossa vontade, tudo o que a contraria ou lhe resiste,
isto é, tudo que há de desagradável e de doloroso, sentimo-lo ato contínuo e muito nitidamente. Não
atentamos na saúde geral do nosso corpo, mas notamos o ponto ligeiro onde o sapato nos molesta; não
apreciamos o conjunto próspero dos nossos negócios, e só pensamos numa ninharia insignificante que
nos desgosta. — O bem-estar e a felicidade são portanto negativos, só a dor é positiva.
Não conheço nada mais absurdo que a maior parte dos sistemas metafísicos, que explicam o
mal como uma coisa negativa; só ele, pelo contrário, é positivo, visto que se faz sentir... O bem, a
felicidade, a satisfação são negativos, porque não fazem senão suprimir um desejo e terminar um
desgosto.
Acrescente-se a isto que em geral achamos as alegrias abaixo da nossa expectativa, ao passo
que as dores a excedem grandemente.
Se quereis num momento esclarecer-vos a este respeito, e saber se o prazer é superior ao
desgosto, ou se apenas se compensam, comparai a impressão do animal que devora outro, com a
impressão do que é devorado.
***
A mais eficaz consolação em toda a desgraça, em todo o sofrimento, é voltar os olhos para
aqueles que são ainda mais desgraçados do que nós: este remédio encontra-se ao alcance de todos.
Mas que resulta daí para o conjunto?
Semelhantes aos carneiros que saltam no prado, enquanto, com o olhar, o carniceiro faz a sua
escolha no meio do rebanho, não sabemos, nos nossos dias felizes, que desastre o destino nos prepara
precisamente a essa hora — doença, perseguição, ruína, mutilação, cegueira, loucura, etc.
Tudo o que procuramos colher resiste-nos; tudo tem uma vontade hostil que é preciso vencer.
Na vida dos povos, a História só nos aponta guerras e sedições: os anos de paz não passam de curtos
intervalos de entreatos, uma vez por acaso. E da mesma maneira a vida do homem é um combate
perpétuo, não só contra males abstratos, a miséria ou o aborrecimento, mas também contra os outros
homens. Em toda a parte se encontra um adversário: a vida é uma guerra sem tréguas, e morre-se com as armas na mão.

Schopenhauer, Dores do Mundo, Coleção Universidade

quarta-feira, 10 de março de 2010

Existência

Tudo é representação, e a tempos a filosofia procura captar a essência das coisas, o que está além do que podemos "ver, ouvir, sentir"
Como defende Kant, o mundo é captado por nossos sentidos. Por eles e apenas por eles conhecemos a realidade, ao menos a que pode ser conhecida.
Não podemos resumir a existência ao que nossos sentidos podem comprovar, nada nos garante que os mesmo são realmente capacitados para captar tudo que está a nossa volta.
Alguns animais são incapazes de enxergarem as cores, o que não significa que elas não existam. Isso levando em consideração que muitos animais possuem sentidos diversas vezes mais aguçados que os nossos. Isso reflete a nós mesmos, nossos sentidos, assim como nós, são medíocres.
E como disse Nietzsche, não devemos confiar em nossos sentidos, quando pergunta: "Através de seus olhos, a terra não parece estar parada?"
Por isso há quem use o termo "extra-sensível", além da capacidade humana de percepção.
Que não se desenvolva a partir desse argumento um discurso tecnicista, a técnica é fruto do homem, logo tão limitada quanto o criador.
A fragilidade do mundo sensorial é comprovada pelos orientais que elevam o poder de concentração ao ponto de andar sobre brasas sem se queimar. E como sabemos, a real capacidade de nosso cérebro ainda não foi descoberta, logo, poderíamos conhecer e ultrapassar barreiras que acreditamos ser intransponíveis.
Poderíamos ver e sentir mais se estivéssemos menos submersos, por assim dizer.
Atentei-me a isso olhando o céu, sinto-me tão pequeno e limitado que mesmo ao pensar tudo que escrevi , acredito estar muito longe da verdade.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Da minha insignificância

Não sei pra onde correr, é essa a premissa que rege minha vida. Não sei de onde vim, pra onde vou e pra que estou aqui.
Temo não poder ser muita coisa, ou por incompetência ou por falta de oportunidades. Viver me parece difícil e cansativo.
Minha vida é uma corrida atrás de meu ideal, que por mais que insista, sei que é quase inalcançável. De onde olho parece estar tão longe.

Ouço, vejo, sinto. Interpreto o mundo com meus sentidos, mas serão eles confiáveis? Acho o que vejo tão pouco, ouço mal em vista da extensão de meus olhos
Com eles apontados para o alto eu me perco, há tanto pra ver. O céu estrelado me fascina, penso em todos os planetas e no grande egoísmo que me envolvo em pensar ser o único, ó pobre ser humano, o que é você perto da imensidão do universo?

Mal conheço a mim mesmo, mal entendo minhas emoções. Muito menos sei o que habita meu corpo, isso que há de extra sensível, que me conecta perante os outros, se é que algo o habita.

Sobre o fim de minha existência sei menos ainda.


Penso em Cristo... o mito me parece muito fascinante e fantástico, digno de uma fábula. Mas penso nas probabilidades, de todas as vezes que a sorte esteve ao meu lado mesmo quando poderia jurar que o pior aconteceria, fui salvo, por um triz.

Quem rodou a roda do destino ao meu favor?

Agradecido sou, mesmo sem saber direito a quem, que seja ao acaso, que seja!

Penso em tudo e no nada, penso e repenso e chego a mesma conclusão daquele velho sábio

"só sei que nada sei"




*aos queridos amigos do belo céu estrelado, velhos amigos, como o tempo passa!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

[Impressão] Homo -cyber

Livro: Os meios de comunicação como extensões do homem - Mcluhan



Tenho o prazer de acordar cedo, com o doce alarme de meu celular
Meu livro de cabeceira esta lá, intacto
Sei que preciso ler o mais depressa possível
Pois o computador me chama com veemência
E se esse me falta, irrito-me e me entrego a televisão
Mesmo achando-a obsoleta em vista do mar de opções que encontro na internet.

Vou ao ponto de ônibus ouvindo meu MP3
A música do rádio me parece um tanto massificada
Prefiro minhas seleções, ouço a música que quero e na altura que quero
Afundo-me em minha individualidade, sem essa de laço social.

Passo por um lindo gramado e penso
"Daria uma bela foto"
Armado de minha câmera compacta, eternizo o momento
Faço dele o meu olhar, recorto, construo e recrio.

Como bom escritor, ou aspirante à
Anoto uma idéia repentina, com uma fluência espantosa
Me recordo do livro, da TV, do celular, da câmera e do Computador
suo frio e penso:

"Meu deus, não suportaria ter vidido a 400 anos atrás"

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Doces Desvaneios

Não sei até que ponto o alcool é o melhor ou o pior amigo do homem. Talvez dependa de cada um, e o meu posicionamento a muito já foi decidido.

A esses doces devaneios atribuo os danos mais colossais de minha alma, feridas de um amargo frescor.

Creio que se existe um demônio na terra, esse reside no álcool. Capaz de dar vida aos desejos mais imorais e passionais, a liberalidade do álcool me assusta. Sua libertação se resume ao passado e ao futuro, juntamente com tudo que neles há.

O presente é o determinante, o agora. Mas infelizmente a vida possui uma dinâmica um tanto mais complexa que o imediatismo da embriaguez. A vida torna-se rala quando diluída nesse mar de paixões... um ato impensado e será tarde demais para reverte-lo, não haverá álcool o bastante no mundo para afogar seu arrependimento no dia seguinte, ó, o duro dia seguinte.

O pior defeito, ou efeito, desse demônio é esconder-se na manhã, geralmente com o raiar do sol onde a lembrança da noite empalidecem o seu rosto. O demônio deixa você encarar as conseqüências sozinho. Sem música, sem amigos e sem o fluir sexual da noite anterior. Conseqüências demasiado reais para experiências que agora figuram como lúdicos sonhos em suas lembranças.

Longe de ser um árduo defensor da moral, acredito apenas no uso responsável do álcool. Você pode não ter consciência de seus atos quando embriagado, mas por sua embriaguez é completamente responsável e por tudo que ela acarreta.

“Quem não bebe tem algo a esconder”, brilhante, assim definiria a afirmação de Baudelaire. Não bebo pois tenho algo a esconder, a desconhecida fera que vive enjaulada dentro de mim, conheço-a apenas o bastante para detestá-la com todas as minhas forças.

Ressentido pela minha dor e por toda essa inútil responsabilidade, penso em juntar-me a eles já que não posso vencê-los.
Abriria a jaula e libertar-me-ia dessa abominável fera, junto com toda a minha razão. Famintas estariam as minhas paixões, arruinaria expectativas, destruiria relações, desconsideraria tudo e a todos e do vazo do erro beberia incessante.

No dia seguinte atribuiria toda a culpa ao álcool, imploraria compaixão, apelaria para os sentimentos afim de aliviar-me de meu peso que transita entre culpa, e satisfação e egoísmo.

Mas creio não ser capaz de tamanha crueldade.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Opinião Pública como reflexo da Moral vingente

[Após assistir um programa Observatório da Imprensa)]


Costumamos importar termos e conceitos e utilizarmos dele sem conhecer o verdadeiro significado do mesmo. Isso acontece em todas as classes e níveis de instrução, percebi isso ontem, quando vi um renomado economista fala sobre "Opinião Pública Mundial" em um programa de TV aberta, o que causou profunda dor aos meus ouvidos.

Já me apropriando do conhecimento de Pierre Bourdieu em "A Opinião Pública não Existe", é difícil levar a sério o que se considera "Opinião Pública".

Essa opinião foi contra o assassinato da "pequena Nardoni", a filha do Brasil (hahaha). Dezenas de pessoas faltaram ao trabalho e deixaram seus afazeres para fazer vigílias em frente a delegacia e ao condomínio onde o crime aconteceu, a opinião ai se manifestou em valores concretos (Terrível o efeito dos meios de comunicação, não?).

Mas em relação ao esquartejamento de duas crianças na periferia naquela mesma semana, a opinião pública não se manifestou, se quer ficou sabendo. A opinião pública só se posiciona em relação ao que chega ao seu conhecimento (passando assim por um filtro midiático). Ela devia procurar informar-se um pouco mais.

Isso quando ela não é usada como ferramenta de pressão política dentro de um determinado contexto.

Grande parte das pessoas não tem instrução o suficiente para opinar sobre determinados assuntos. Somos todos contra o uso de propina, inclusive aqueles que não sabem o que isso significa.

O conceito desrespeita questões de gênero e cultura, é uma representatividade vazia e disforme.

O conceito é extremamente massificante e destrói a pluralidade das opiniões, mesmo que em nível municipal.

Talvez você ache o crime dos Nardoni à coisa mais irrelevante do mundo em vista das atrocidades e assassinatos que acontecem regularmente em nosso país, mas de qualquer maneira você está incluído nessa opinião como se alguém houvesse lhe questionado sobre isso. Como você imitiu essa opinião? Através da moral.

Se essa opinião é reflexo da moral, é acima de tudo é mutavel e questionável (e se tratando do que representa, em grande maioria equivocada e retrógada)

Sendo assim a opinião pública mais se parece como um reflexo moral. O que é moralmente condenável, a opinião pública condena.

A Opinião Pública é contra os escândalos no Distrito Federal, mas o brasileiro continua a usar a impressora do trabalho para imprimir coisas de interesse particular, incluindo dos familiares. Ou então abafando o desvio de dinheiro de seus superiores graças ao medo de ser demitido.

E mesmo sendo contra a esse delito, não nos certificamos que não faríamos o mesmo. Do lado de cá tudo parece um pouco mais simples, você sabe, somos todos corrompidos pelo sistema. Quantas vezes você já ouviu "O mundo é dos espertos"?



Sendo assim a Opinião Pública é hipócrita, pouco expressiva e extremamente vulnerável a manipulação midiática.

Levando em consideração as diferenças culturais, logo as diferentes morais e as pluralidades em questão o conceito Opinião Pública Mundial também não lhe dói os ouvidos?


por Marcelo Horst
Contribuição significativa de Dani Braga.